Passam-se os dias e a urgência de se atualizar as discussões do futebol brasileiro na direção dos negócios grita mais. Numa semana em que discutimos pela enésima vez o calendário que retira grandes atletas dos principais clubes em jogos decisivos, a NBA promove novamente o seu já tradicional “Media Day” (clique aqui pra ver vários conteúdos sobre o assunto) com todas as franquias e atletas que irão participar da temporada que se inicia no fim do mês – e tem, obviamente, todas as datas definidas e priorizando o próprio produto. E o que tem uma coisa a ver com a outra, você pode perguntar? Tudo. Enquanto a gente discute surrealmente o item mais básico, que é a data dos jogos, perdemos a oportunidade de criar novos ativos de marca, que permitiriam aumentar o alcance e as receitas desse produto chamado “futebol brasileiro”.
Nas principais ligas, os Media Day acontecem simultaneamente em todas as equipes e com todos os atletas. Isto permite que todos canalizem esforços para o melhor funcionamento da operação de marketing, sem que um departamento de futebol se oponha à realização de uma atividade (aqui tratada como) paralela, ou que os jogadores se incomodem com esta agenda. É calendário, é parte do processo, assim como os exames médicos na volta da temporada. Tem data pra acontecer, todo mundo sabe quando vai rolar e pode se planejar para, simplesmente, fazer o melhor em prol do marketing e da comunicação com os fãs/consumidores, que são quem pagam essa conta toda. Afora que os Media Day geram uma mobilização coletiva dos agentes participantes e fazem com que, nas redes sociais de praticamente todos os envolvidos, o tema ganhe destaque e primazia. Cria-se uma blitz temática que varre os feeds dos fãs/consumidores e permite o produto se destacar na chuva de conteúdos que invadem nossas vidas diariamente.
São diversos os fatores que dificultam isso acontecer no futebol brasileiro, a começar pelo descrito no primeiro parágrafo: ainda estamos na idade da pedra lascada no que diz respeito a planejamento de produto. Mas não é só isso. A lógica de colaboração entre as equipes, que permite a compreensão de que o todo é maior do que a soma das partes, não existe por aqui em nenhum nível e precisa urgentemente voltar a ser tratada como único meio de se manter os nossos campeonatos relevantes. Em um produto como os Media Day, a maior parte dos clubes – sobretudo os de maior investimento – tenderia a fazer da sua ação um ativo próprio, a mercê única e exclusivamente dos seus interesses comerciais. Na NBA, LeBron James não tem um calendário diferente do sérvio Vanja Marinkovic, último rookie draftado para esta temporada. A regra no mundo digital é que todo produto será maior quanto mais gente unir força em torno dele. Na música temos um bom exemplo disso, onde os “feats”, músicas com participação de mais de um artista, ditam os maiores sucessos nas playlists de serviços de streaming, por vezes juntando até 8, 10 artistas numa mesma faixa. Por que? Porque já descobriram que, no digital, fazer sozinho é progressão aritmética, enquanto o compartilhamento em conjunto é exponencial.
Mais do que as discussões retóricas sobre os assuntos de sempre, penso que tem faltando discutirmos mais o negócio do esporte no Brasil. Isso inclui desde os dirigentes, atletas e confederações, mas também a imprensa. Enquanto não pautarmos a discussão pela experiência que o torcedor já poderia ter – e está tendo em outros produtos, sejam as ligas de fora, outros esportes ou até esportes eletrônicos -, vamos seguir falando de temas velhos, insossos e que sozinhos não são mais capazes de mudar nada. Não dá mais tempo de resolvermos só o básico. O corte tem que ser profundo e o básico virá à reboque. Ou não teremos tempo de nos recuperar.