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Lembro que na primeira entrevista que dei ao assumir como VP de Marketing do clube com a História mais bonita do futebol, disse que achava que o caminho que tínhamos a traçar pela renovação da imagem do clube era se fincar no passado, nos valores. Naquilo tudo que transcende o futebol e faz a escolha por um time ser uma vocação tão profunda, fundada na tenra infância e que dura até a morte. É algo muito sério escolher isso. É uma espécie de branding pessoal quando ao ser humano não se entendeu nem como pessoa, muito menos o que é branding.

Quando resolvemos homenagear nossa cidade, devastada por uma chuva sem precedentes, e o que representa a paixão de quem ama o futebol, sonha com ele e viu 10 vidas infantis ceifadas, sabendo que o que nos une é o amor por este esporte, não foi fácil. Citar o Vidigal, a Rocinha e o Flamengo na nossa camisa, neste momento sem patrocínios, não é óbvio. A homenagem não foi a eles, foi à vida. Tão fugaz e intensa, movida a amores e dores, sempre.

Não é simples lidar com a curva de ódio que tantas vezes nos impede de demonstrar o nosso lado generoso. Medo é foda. Mas naquele furacão de emoções da semana passada, entendemos em grupo, que não havia nada a fazer se não ser do tamanho da vida. Essa é a vocação do Vasco desde a famosa Resposta Histórica, publicada em 1924 pelo clube quando se recusou a abrir mão dos negros e operários para poder se juntar aos grandes da época. O Vasco é maior. Ser Vasco é falar da vida como uma jornada humanitária, maior do que as circunstâncias momentâneas. É entender que os valores nos levam a um lugar firme, ao redor do qual o mundo vai girar. Não o contrário.

Li um comentário perdido de um torcedor de outro time que dizia “hoje eu parei de odiar o Vasco” e isso me calou a alma. O time que até os anos 90 era uma das três maiores torcidas e até os anos 70 era considerado o time preferido pelos outros torcedores se tivessem que escolher um ‘segundo time’ vinha virando um imã de ódio, raiva e rancor. Ainda que não tenha uma pesquisa sobre isso, não seria difícil saber que o Vasco deixou de ser um dos três mais amados e se tornou um dos três mais odiados. Na mesma medida em que a torcida diminuía nas pesquisas de opinião. Quero acreditar que, depois de atitudes como a de ontem, o ódio possa cessar e isso seja um primeiro passo para se voltar a entender o que é a grandeza deste clube. O Vasco não pode ser odiado. Odiar o Vasco é odiar a essência do melhor do Brasil. É odiar nossa história e comprometer nosso futuro. E o Vasco não é o time do ódio. A gente canta que o Vasco, além de o time da virada, é o time do amor.

Que esse gesto pequeno nos permita sonhar de ver vir essa virada e que seja através do amor, da galhardia e de saber que a vida é maior que tudo. Cuidar do marketing de um clube me parece, cada vez mais, ser tentar se comunicar a seus valores essenciais ou ao que entendemos sê-lo. Cada um há de ter uma interpretação e eu compreendo quem não veja a atitude como a melhor. E um dos nossos valores por aqui é pregar a pluralidade e conciliá-las, em vez de separá-las. A possibilidade de ver essa discussão se espalhar e, eventualmente, ser argumento para um próximo dirigente que queira fazer algo assim e precise provar que vale a pena é o que o Vasco tem a deixar. Ser exemplo e referência de bons sentimentos.

O maior marketing do Vasco será ser ele mesmo, sempre.

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